“e, finalmente, júlia aceitou o convite de Bruno para sair com ele.
um encontro.
ou, como dizem as produções americanas que entopem nossos cérebros desde que somos crianças: um date.
júlia era a menina mais bonita da faculdade.
quer dizer, bruno não podia afirmar isso pois não conhecia todas as meninas da faculdade.
mas com certeza era a mais bonita do andar em que ele estudava.
se bem que ele só estava lá pela manhã…bem, definitivamente era a mais bonita da turma dele de introdução aos mercados globais e Relações Internacionais.
Desde o primeiro dia de aula, Bruno se encantou por Júlia.
Ele estava sentado em sua carteira, pensando em nomes para sua banda cover de System of a down, quando ela entrou na sala.
Cabelo curto e escuro cortado estilo Chanel, olhos cor de mel, um fone de ouvido com o desenho de um personagem de South Park e uma camiseta com a foto de Jack Kerouac.
Bruno quase caiu para trás quando ela falou ‘bom dia’, e respondeu ‘JRAUGOCBAO!’, pois não conseguia formar pensamentos coerentes.
Ela o observou como se ele estivesse sofrendo um acidente vascular cerebral e sentou-se do outro lado da sala.
‘Muito bem, Bruno!’, pensou ele.
‘Praticamente um repelente ambulante de mulheres!’
Ele olhou frustrado para o caderno e sublinhou a melhor opção até então para o nome da banda: Sistema Feudal.
Corta para o dia do primeiro encontro dos dois.
Depois de Bruno prometer lavar a louça por um mês, seu pai Bruno emprestou o carro para que ele impressionasse Júlia.
Ele chegou no horário marcado, o que era um feito inacreditável pois a sua mãe sempre dizia que ele era tão atrasado que não conseguiu chegar na hora nem para o próprio parto – passou quase duas semanas da data prevista.
Quando o carro anunciou ‘Você chegou ao seu destino!’, Júlia já estava em frente ao prédio, esperando por ele.
Bruno desceu do carro na intenção de ser cavalheiro e abrir a porta.
Porém, quando chegou no lado do carona, não a encontrou.
Olhou para os lados sem entender nada.
Já tinha começado a pensar que estava sonhando com Júlia novamente quando ouviu o barulho do vidro da janela do carro se movendo.
Virou a cabeça para o lado e viu que Júlia já estava dentro do carro.
Ela olhou pra ele segurando o riso e falou ‘O que é que você está fazendo aí, garoto?’
E caiu na gargalhada.
Bruno deu de ombros e entrou no carro.
Ele havia preparado uma mix tape – que na verdade era uma playlist – com algumas músicas da sua banda.
Porém, como era um cover de um grupo de heavy metal, Júlia não conseguia ouvir uma palavra do que ele dizia por causa do barulho ensurdecedor.
Frustrado, ele mudou rapidamente de playlist.
Não deu muito certo.
As músicas eram horríveis e Júlia olhava de lado para Bruno, rindo discretamente, com a mão cobrindo a boca.
Ele olhou para a tela da central multimídia do carro e percebeu que havia colocado acidentalmente em uma playlist chamada RomanceStart, que continha apenas versões melosas de músicas do Restart.
Em um ato piedoso, Júlia alcançou o botão e desligou o rádio.
Ele gaguejou desconcertado, mas ela se mostrou uma especialista em quebrar o gelo e fez a conversa fluir bem.
Com o ânimo revigorado, Bruno chegou no restaurante mais badalado da cidade.
Era impossível conseguir uma reserva mas, por sorte, seu primo era barman lá e conseguiu mexer uns pauzinhos.
Certo que ia impressionar, Bruno andou confiante até a hostess e mandou na lata:
‘Reserva das 21h, por favor. Meu nome é Bruno Cordeiro.’
A moça olhou e disse que não havia nenhuma reserva com esse nome.
Bruno insistiu, sentindo gotículas de suor brotarem na sua testa devido ao nervosismo.
Novamente, a moça disse que não seu nome não estava na lista.
Bruno olhou ao seu redor.
O restaurante estava lotado.
O bar do restaurante estava lotado.
Até a fila do manobrista estava lotada.
Não havia esperança de ficar por lá sem reserva.
Júlia parecia observar curiosa.
De repente, a hostess fala:
‘Encontrei! Bruno Cordeiro, 21h…da próxima sexta.’
Seu estômago gelou.
Júlia gargalhou.
A hostess chamou o próximo.
Ele havia reservado na data errada.
Saíram do restaurante.
Júlia balançando de tanto rir e bruno arrastando os pés, entregue à derrota.
Ela o cutucou no braço e apontou para o outro lado da rua, onde viram uma cervejaria pequena, porém aconchegante.
Eles entraram, sentaram, conversaram, pediram, se beijaram e seguiram conversando.
E foi uma conversa tão boa que até hoje eles não pararam.”
Com o microfone na mão, Pedro olhou em volta e terminou seu brinde.
“Por isso, é um prazer estar aqui contando essa história que eu já ouvi muitas vezes e que nunca canso de repetir. É uma honra ser o padrinho de casamento do casal mais incrível que eu já conheci.
desejo, do fundo do meu coração, que aquele tenha sido o último primeiro encontro da vida de vocês.
que seja leve e eterno!”
e não é que foi?